Cléo, 44 anos...
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Maio de 1995.
Me deparei com a maternidade em 1995, beirando meus 21 anos. Num momento em que estava certa de que não seria mãe tão cedo, "SE" fosse...
Ela tinha sete anos, pesava 18 quilos e tinha olhos verdes arregalados! Sempre surpresa com tudo o que via!
Já nos conhecíamos, éramos primas, mas nos víamos uma vez ao ano, no máximo. Até que minha mãe a trouxe para morar em casa. Ela vinha de um lar desfeito tristemente, para uma casa nova, com pessoas que mal conhecia. Minha mãe a entregou a meus cuidados logo que chegaram, pois tinha de trabalhar e eu parti em busca de escola, médico, dentista e principalmente tentar me aproximar dela, o que não foi difícil, porque ela era completamente carente de amor, de atenção. Se jogou em meus braços e me tomou pra ela logo de cara. Suas poucas palavras e sorrisos eram sempre meus!
A primeira vez que se dirigiram a mim como "mãe" foi no dia seguinte a chegada dela. O pediatra no consultório me perguntou: " O que está acontecendo com a Raquel, Mãe?" Fiquei em silêncio, meio sem entender. Então contei a história dela, como chegamos ali... À partir desse dia, em todas as consultas, ele me chamou de mãe e eu já à partir da segunda, nem falei mais nada...
Mas não foi só o pediatra; o dentista, a moça da secretaria da escola, a professora, na padaria,no mercado, etc... etc...etc...
Depois de um tempo, percebi que ela sorria toda vez que alguém falava. Até que uns poucos meses depois, ela me surpreendeu ao dizer, enquanto íamos pra escola:
-Líndia (como me chamava), mãe conta histórias na hora de dormir?
-Sim.
-Mãe dá banho, desembaraça os cabelos?
-Sim.
-Brinca, faz suco vermelho, faz bolo?
-Sim. Pq?? ( Me perguntando onde ela queria chegar? Reconhecendo nosso dia a dia.)
-Mãe leva no médico? No dentista?
-Sim...
-Também leva na escola e ajuda na lição de casa, né?
-Sim...
-Então, você é a minha mãe!
Falou enquanto soltava um sorriso e me dava uma olhadinha de lado, sem parar de andar...
Pode ter começado meses antes, mas nesse momento, TUDO mudou de fato.
Aos 21 anos eu me tornei mãe dessa menina encantadora de 7 anos.
À partir daí, houve milhares de outros momentos lindos e plenos de amor! Mas também, houve momentos de muita dor. Assumir a maternidade com 21 anos de uma criança grande, gerou uma estranheza enorme. Mais por parte da família, que achava que não precisava ser mãe dela.
Podia ser responsável: pela saúde e bem estar, pela educação, arcar com seus gastos… Dar carinho, colo! Tudo aceitável! Mas emocionalmente tinha de limitar nossa relação.
Ser MÃE?
Não!!
Por que eu queria isso? Por que tinha de nomear assim?
Às vezes parecia que estava sujando esse nome tão imaculado.
Eu ouvia, “quando você realmente tiver os seus filhos você vai entender que é diferente. Que não tem comparação esse amor”.
Mas eu nunca quis fazer uma comparação. Só queria viver essa relação tão intensa de amor! Eu ganhei uma filha, sem pedir! Não senti como se o mundo estivesse perdido! Mudou os meus planos? Tudo o que havia idealizado, sonhado? Sim! Completamente! Um novo caminho pra trilhar. Desconhecido… Dolorido demais! Eu mudei! Eu cresci, por ela!! Deu outra direção a minha vida!
Entendi que não era a direção esperada para mim, por ninguém! Não sei por que… Era a minha vida!
E as histórias que me contavam? Sobre o tamanho do problema que eu estava "procurando":
-Nossa!!! Fulano adotou um, deu de tudo e esse nunca foi capaz de demonstrar gratidão!!!
-Isso não dá certo! “Eles” não pegam amor, não!
Ao longo dos anos ouvi absurdos demais:
-Você tem problemas para engravidar? Não? Então, porque adotou?
-Nossa!! Ela já é grande! Já que quis adotar, porque não escolheu um bebê?
Essa era a que mais ouvia:
-Nossa!!! Você não tem idade pra ser mãe, menina! Não é hora de assumir essa responsabilidade. Vai viajar! Estudar! Larga disso!!
Mas e aí?? Eu devolveria ela?? Diria: Olha linda, agora é difícil pra mim, mas daqui dez anos, quando estiver pronta, eu volto e posso ser a mãe que você precisa???
Não era algo adiável! Ela precisava de mim, e eu dela, naquele momento!
A crueldade das pessoas com ela era algo inacreditável. Zero sensibilidade!
O que ela mais ouvia, do que me diziam quando ela estava perto, e sei que era o que mais causava dor:
-Quando você pretende ter um filho seu mesmo, “de verdade”?
Muitas vezes ela me disse que o maior sonho dela era ser minha filha “de verdade”!
Foi dolorido demais para nós duas! Mas aprendemos a nos blindar. Nos afastamos de muitas pessoas. Nossa felicidade era quase secreta!
Ouço ainda:
-Legal você gostar dela “como se fosse" sua filha.
Até hoje, é dolorido… Minha mãe, muitas vezes começa enumerar as qualidades, defeitos dos netos. Quando percebe que não falou dela, tenta se corrigir e piora: Num falei, mas você sabe que eu sei que você quer bem a ela “como se fosse” sua filha...
Não adianta!!! 23 anos depois, é assim…
Não consegui fazê-los entender que é muito maior que gestar e parir. Aliás quando pari, voltei a ouvir:
-Vai me dizer que não é diferente o amor que você sente por eles?
Oras!!! Claro que é!
São pessoas diferentes, que chegaram na vida de maneiras diferentes, de tamanhos diferentes e em momentos tão diferentes! Como posso amar igual? É como para muitas mulheres que gestaram 4 filhos, alguns de relacionamentos diferentes, cada gestação aconteceu de uma maneira, e cada um deles tem uma personalidade. Claro que os ama de maneiras diferentes! Minha mãe ama os quatro filhos biológicos de maneiras diferentes!
Amo imensamente cada um dos meus quatro filhos!
Sim! Hoje, esse é o número aqui!
Recebi quatro presentes da vida! Somente um, gestei. Cada um chegou a mim de uma maneira! Com uma história linda! Transformadora! (Que contarei um outro dia!) Cada um me marcou e me mudou de uma maneira diferente! Eu sou o resultado deles. Eles ainda me moldam! Me mudam todo dia!
Existem tantas histórias lindas de amor sendo diminuídas e não festejadas porque fogem do que acham “normal”.
Me pergunto quando a sociedade irá se abrir para ver mais o amor, o respeito às escolhas dos outros e menos o que se convencionou ser o “CERTO”...
Torço que seja breve!
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23 anos depois...
Mãe é difícil definir essa palavra tem vários significados:
ResponderExcluirObservação: amor, respeito,carinho,amiga, heroína,inteligencia,disponivel a todo tempo enfim é difícil dar significado mesmo encontramos várias definições sobre esta pessoa que nos deu a vida.
Graças a Deus a sua existência !
Roberto Martins.
Joseval Carlos 03/Junho 2018
ResponderExcluirÉ difícil definir essa questão aos olhos masculinos, porem é possível termos uma ideia do que significa ser mãe...
Ser mãe não é apenas gerar uma criança no ventre, ser mãe é muito mais que isso, é ter nas maos a responsabilidade de dar continuidade a descendência familiar ao lado do pai
Que tem igual responsabilidade na criação... Porem o privilégio de gerar essa vida é da... mulher,mãe,guerreira,eroina,amiga,
confidente as vzs até pai por falta de um companheiro, o fatoo é que nos falta palavras pra descrever esse milagre que é ser mãe,então só nos
resta agradecer há vcs...muito obrigado por serem apenas MÃE.
Comovente!!!! A vida sempre nos surpreende de formas diferentes e singulares.... A maternidade tem muitas facetas, muitas surpresas, nada é sabido à esse respeito, vamos aprendendo a ser mãe com cada um dos filhos de acordo com os acontecimentos, e nada, nem a história, nem o amor é o mesmo... Linda sua história!!!
ResponderExcluirFalar sobre ser mãe é uma coisa divina que toda mulher almeja um dia, pois é o sentido da sua vida, como também dar o direito de poder formar um ser, lhe dar vida assim como as nossas mães o fizeram com todo amor, e dar a um novo ser uma vida, uma família, onde toda mulher e casal se completam gerando essa pessoa especial e que é difícil depois que se sabe que já encontra-se dentro do seu ventre uma sementinha, que irão amar intensamente cada minuto mesmo antes de nascer, tomando cuidado extremo para que nada de mal aconteça ou atinja essa vida que é seu bebê, sistema de defesa que só mesmo a mulher, mãe sabe e se sacrifica para tamanha missão que lhe foi concebida desde os tempos primórdios, eu como pai de uma menina de 11 anos hoje sei o que é amar realmente esse ser chamado de filha, sendo assim imagino pelo lado da menina que um dia anos atrás nunca imaginava que um dia cresceria e viria a sentir e ter o orgulho de dar a vida a uma pessoa tão amável que hj não é só sua filha mais sua melhor amiga por todos os tempos, parabéns pelo dom da vida e orgulhe se sempre de um dia poder olhar o mundo é falar EU SOU MÃE COM ORGULHO.
ResponderExcluirO ser humano mãe é algo sem explicação, podemos ler todos os tipos de livros viajar por mais de 30 paises em busca da definição exata e mesmo assim não encontramos,por um simples motivo(Mãe é pura e simplesmente sentimentos). Sua história de vida mostra que mãe é quem cuida se preocupa da amor carinho é mais que umbigo parabéns linda apaixonante história.
ResponderExcluirQue lindo, adoro a sua história ! Exemplo de pessoa iluminada.. tem gente que nasceu pra isso né? Tenho certeza que este é seu caso
ResponderExcluirMarcos Castro
ResponderExcluirMaternidade. Ser mãe. Gerar uma vida. Ou apenas aceitar uma vida, como seu relato.
Parece ser algo tão complexo aos olhos de fora. Quando dizemos mãe vem tantas coisas por trás deste nome. Ser mãe é algo divino. É um dom dado por Deus as mulheres. Quando gerado em seu útero cria se uma relação, um vínculo que não se consegue explicar. Mas a maternidade qdo vem através de adoção de maneira natural, sem escolha, sem imposição, cria se um elo tão forte de amor que supera qq situação de preconceito ou coisas assim. Ser mãe é um dom de saber amar, se doar, se entregar. Mesmo qdo não planejado.
Emocionante a história de vocês. Amor não se escolhe, simplesmente acontece. Maternidade é um vínculo imensurável, uma conexão muito forte, um amor incondicional. Tema lindo para ser abordado!
ResponderExcluirEmocionante essa História, que relação linda de amor, carinho, dedicação misturas de sentimentos incríveis, aliás MÃE é um ser que ama, cuida, e quer vê os filhos sempre bem.
ResponderExcluirO amor maternal vai além de laços de sangue, transcende a razão. É esse amor que torna nosso mundo mais humano é melhor! Parabéns Cléo, pela garra e coragem de fazer sempre o que tem que ser feito!
ExcluirQue história linda! Emocionante demais!... Tão bom ler um depoimento assim tão cheio de vida e sensibilidade!... Faz a gente sentir ainda mais vontade de seguir em frente em busca do "sonho da maternidade "!...
ResponderExcluirhaaaaa vocês são lindas !!!!!!!!!!!
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